Produtos químicos borrifados no ar podem provocar tontura, visão embaçada e até desmaios com perda dos sentidos. Segundo especialista, solventes como éter e clorofórmio podem ter efeito imediato semelhante ao do "boa noite, Cinderela", droga utilizada por criminosos para dopar vítimas.
Nesta quarta-feira (11), uma passageira de transporte por aplicativo afirmou ter sido dopada por um motorista durante uma corrida em São Paulo. Ela contou que sentiu um forte cheiro de produto químico no carro, e logo em seguida começou a sentir zonza e com a visão embaçada. Nos últimos meses, outras mulheres usaram as redes sociais para fazer relatos semelhantes, e casos parecidos estão em investigação no Rio de Janeiro e em Porto Alegre.
De acordo com a farmacêutica toxicologista Paula Carpes, as vias respiratórias transportam substâncias químicas de maneira muito rápida para a corrente sanguínea. A inalação de solventes como éter, clorofórmio ou metanol poderia provocar entorpecimento e desmaio em poucos segundos, dependendo da concentração do produto.
"O solvente se espalha muito rápido, ainda mais em ambiente pequeno como o carro. Borrifar direto na vítima, como se fosse um aromatizador, ou mesmo no sistema de ar condicionado, poderia ter esse efeito. Éter e clorofórmio são muito potentes, são depressores do sistema nervoso central. [A pessoa] vai ficar lenta, com a visão turva e pode gerar o desmaio", afirma.
A toxicologista aponta ainda que, antes do advento da anestesia, o clorofórmio era utilizado na medicina para entorpecer pacientes durante cirurgias e até mesmo amputações. "Esses produtos são de uso controlado em laboratório, mas também são vendidos clandestinamente na internet. Isso facilitou muito todo tipo de crime."
"Até então, o clássico golpe desse tipo de deixar a vítima entorpecida era o 'boa noite, Cinderela', que era colocado dissolvido em bebida. Essa droga também pode fazer o efeito se for borrifada, mas não tem a característica do cheiro forte como os solventes", diz.
Máscara barra o efeito
Ainda segundo a especialista, uma máscara do tipo PFF2 ou N95 bem ajustada ao rosto seria capaz de proteger da exposição aos solventes.
Esses equipamentos de proteção individual já eram utilizados por trabalhadores que lidam substâncias químicas voláteis, mas o uso foi popularizado com a pandemia de Covid-19 porque também protegem da contaminação pelo coronavírus.