Você está em:

A teoria do ‘útero errante’ que deu origem ao ultrapassado conceito de histeria

Esta crença existiu há mais de 2,4 mil anos, mas o paradigma sobre como o suposto 'animal' afetava o corpo se manteve
Picture of Amanda Omura

Amanda Omura

Um animal dentro do corpo de outro animal. Esta era a descrição do útero feminino na antiguidade.

A frase foi atribuída a Platão e a Aristeu da Capadócia. Mas ela demonstra a visão da época sobre aquele órgão e as mulheres.

Especificamente, as pessoas acreditavam que o útero seria um animal móvel que vagava pelo interior do corpo. E a mulher não tinha nenhum controle sobre ele: era o "útero errante".

Esta crença existiu há mais de 2,4 mil anos, mas o paradigma sobre como o suposto "animal" afetava o corpo da mulher e seu modo de ser se manteve por séculos.

O órgão também acabou vinculado a uma doença que chegou até os divãs do psiquiatra austríaco Sigmund Freud (1856-1939): a "histeria".

É difícil definir "histeria" sem cair em simplificações. Mas, nas diferentes correntes médicas, o termo foi mantido para definir uma doença dos nervos, do desejo, que rege as emoções e as exacerba.
A histeria era caracterizada por uma grande variedade de sintomas que, conforme a época, variavam de estados de abatimento, respiração ofegante, silêncio e até espasmos. Uma verdadeira colcha de retalhos – e todos os sintomas seriam provocados pelo útero, seus movimentos e alterações.

Não por acaso, a origem da palavra "histeria" vem do termo grego ("hystéra", que significa "útero").

O "útero errante" era a resposta aos diversos males inexplicáveis de que padeciam as mulheres.
"Os antigos gregos também culpavam o órgão feminino de tudo, desde convulsões até a depressão", afirma Elizabeth Kissling no seu artigo "The Wandering Uterus" ("O útero errante", em tradução livre), publicado pela Sociedade de Pesquisa do Ciclo Menstrual, sediada nos Estados Unidos.

"O comportamento histérico (emoções fora de controle, medos irracionais, conduta descontrolada e exagerada) foi associado às mulheres e o útero era o epicentro da culpa", segundo Kissling.
E havia vários "remédios" para o útero errante.

Como se achava que o útero teria o sentido do olfato, propunha-se aplicar um odor pestilento onde ele estivesse mal colocado e, ao mesmo tempo, um odor agradável na vulva. A ideia era que, atraído pelo bom aroma, ele regressaria para a sua posição correta.

Outra solução era irrigar a matriz com sêmen, já que se acreditava que o útero se deslocava por estar seco e árido. Por isso, a prescrição para as mulheres viúvas era engravidar e, às solteiras, que se casassem.

A teoria do útero errante chegou ao célebre médico grego Galeno (129-216).

Embora ele acreditasse que o útero não perambula pelo corpo, por parecer anatomicamente impossível, Galeno afirmava que o órgão mudaria de posição, por exemplo, durante a gravidez.

O médico também manteve o conceito de histeria como a grande causa das patologias femininas e suas variações, como a "asfixia uterina".

Posts Relacionados

Hipertensão: por que a pressão ’12 por 8′ passou a ser considerada alta por médicos

Hipertensão: por que a pressão ’12 por 8′ passou a ser considerada alta por médicos

Um novo consenso de especialistas europeus simplificou os critérios de diagnóstico, tratamento e acompanhamento de pacientes

Microagulhamento: como funciona a técnica que promete melhorar a beleza e a saúde da pele

Microagulhamento: como funciona a técnica que promete melhorar a beleza e a saúde da pele

Ele é feito com agulhas de metal muito finas que fazem microperfurações na pele e, podem estimular a produção de colágeno

Como os exercícios físicos ajudam na saúde mental?

Como os exercícios físicos ajudam na saúde mental?

Exercícios físicos têm impacto na saúde mental devido a uma combinação de efeitos fisiológicos, neuroquímicos e psicossociais

O impacto de um diagnóstico de Alzheimer precoce

Grupos de apoio são fundamentais para lidar com a situação, que também é devastadora do ponto de vista financeiro

Remédio nem sempre é indicado para tratar insônia; entenda mais sobre o distúrbio

Remédio nem sempre é indicado para tratar insônia; entenda mais sobre o distúrbio

A insônia é um distúrbio do sono caracterizado pela dificuldade de adormecer, permanecer dormindo ou ambos

Sociedade Internacional de Menopausa defende os benefícios da reposição hormonal

Sociedade Internacional de Menopausa defende os benefícios da reposição hormonal

Com acompanhamento médico, até mulheres acima dos 65 anos poderiam ter uma melhora em sua qualidade de vida

Casos de mpox passam de 100 mil em todo o mundo, diz OMS

Casos de mpox passam de 100 mil em todo o mundo, diz OMS

Novo relatório divulgado pela OMS mostra que desde 1º de janeiro de 2022 foram registrados 103.048 casos da doença

Mulheres com endometriose têm 20% mais risco de infarto ou AVC, aponta pesquisa

Mulheres com endometriose têm 20% mais risco de infarto ou AVC, aponta pesquisa

Trabalho apresentado em congresso de cardiologia revela que doença pode lesar o coração e os vasos sanguíneos

en_USEnglish