Assim como nós temos uma rotina diária (para comer, trabalhar, fazer exercícios físicos, dormir), nosso organismo também tem uma.
Trata-se do ciclo circadiano. Durante a manhã e tarde, corpo e mente estão ativos; com a chegada da noite, uma série de mudanças fisiológicas nos preparam para dormir.
É como um relógio. Um relógio interno que nos avisa dos diferentes momentos das 24 horas do dia e que tem impacto tanto no âmbito físico quanto mental e comportamental.
Mudança nos horários, mudança na microbiota
E o que acontece com a microbiota se passarmos a comer tarde, por exemplo?
Fazer mais tarde uma refeição que geralmente acontece ao meio-dia, por exemplo às 16h, causa um atraso no relógio, uma interrupção do ritmo normal da função intestinal e uma alteração na composição e funcionalidade das bactérias intestinais.
A microbiota é afetada principalmente pelo perfil da nossa dieta alimentar, mas alterar os horários de alimentação — seja por uma questão comportamental, por um jejum ou pelo aumento da frequência das refeições — também tem impacto.
As bactérias intestinais apresentam suas próprias flutuações dependendo da hora do dia, tanto na composição quanto nas funções.
Em humanos, um estudo realizado com mulheres observou que comer tarde reverte a taxa de diversidade microbiana oral. O que aparece é um padrão observado também em algumas doenças, entre elas a obesidade e distúrbios inflamatórios intestinais.
A influência dos micro-organismos no nosso sono
Esses estudos mostram que a microbiota intestinal é afetada por um descompasso nos ciclos biológicos, uma vez que estes ativam ou desativam genes envolvidos no metabolismo bacteriano dependendo da hora do dia.
Trata-se, contudo, de uma relação de mão dupla: o metabolismo das bactérias intestinais também é capaz de influenciar ritmo circadiano.
Esse processo pode ocorrer de duas formas: através da produção de metabólitos, a partir dos alimentos que ingerimos, ou respondendo às alterações de horário modulando a abundância de determinados grupos bacterianos.
O microbioma intestinal é responsável pela produção de alguns dos compostos químicos (os referidos metabólitos) que vão parar na nossa corrente sanguínea e podem induzir ou fomentar o sono.