Até articular no fim de semana a fracassada rebelião armada e balançar os alicerces do centro de poder na Rússia, Yevgeny Prigozhin serviu fielmente aos interesses de Vladimir Putin. Como dono de uma empresa de catering que abastecia o Kremlin e transformado em oligarca, nas últimas três décadas ele diversificou os negócios para conspirar contra a democracia dentro e fora da Rússia.
Criou uma força militar de mercenários, atuando na Ucrânia e países do Oriente Médio e da África, e assumiu o papel de liderança na interferência russa nas eleições americanas de 2016, que projetaram Donald Trump ao comando dos EUA.
O chefe do Grupo Wagner se gabou de ter orquestrado uma operação para influenciar a política americana com uma gigantesca campanha online, promovida pela empresa Internet Research Agency (IRA na sigla em inglês), com sede em São Petersburgo, também conhecida como “fazenda de trolls”.
Na véspera das eleições de meio de mandato nos EUA, em novembro passado, ele admitiu pela primeira vez o papel no conluio para ajudar Trump e minar a candidatura de Hillary Clinton e disse que repetiria a ação se necessário.
Em 2018, Prigozhin foi acusado, com outros 12 russos e três empresas, pelo promotor especial Robert Mueller e por um grande júri de interferir nas eleições americanas. Um mandado de prisão foi emitido contra ele nos EUA, assim como sanções financeiras, aplicadas também pelo Reino Unido e pela União Europeia.
Da mesma forma como recrutou mercenários em prisões para atuar na frente de batalha ucraniana, Prigozhin contratou um exército de funcionários russos, fluentes em inglês, para disseminar mentiras e desinformação, no período que antecedeu as eleições de 2016, por meio de contas falsas nas plataformas de mídia social dos EUA.
A agência criada por Prigozhin operava supostamente por meio de empresas de fachada russas e tinha a seu dispor um orçamento milionário, segundo a acusação.