Há seis semanas, enquanto a Rússia atacava a Ucrânia, Emmanuel Macron estava na zona de conforto, claro favorito a tornar-se o primeiro presidente a ser reeleito na França em 20 anos. A campanha eleitoral não o preocupava, parecia mais concentrado em firmar-se como estadista, mediador e líder europeu.
Em sua terceira tentativa de tornar-se presidente, Marine Le Pen, a líder da extrema direita francesa, correu por fora e suavizou o discurso, focado no que chama de “França profunda”. Reduziu a diferença nas pesquisas e encostou em Macron.
A imagem moderada da candidata foi esculpida mais para a direita, deixando os eleitores mais radicais para o ultradireitista Eric Zemmour, um xenófobo comentarista de TV que se define como nostálgico e reacionário, ao pregar que a França e o Islã são incompatíveis.
De início ofuscada por Zemmour, Le Pen tomou distância dele e se beneficiou dessa estratégia. Deixou para o adversário da mesma corrente ideológica o discurso extremista, que rechaça imigrantes e insiste na decadência da França.
A candidata do Reagrupamento Nacional (antiga Frente Nacional) concentrou-se no aumento do custo de vida, no corte de impostos e na aposentadoria aos 62 anos (e não aos 65 como defende Macron). Não que ela tenha abandonado as promessas de restringir a imigração, proibir o véu mulçumano em todos os espaços públicos e priorizar os franceses na obtenção de moradia e emprego.
Essas ideias permeiam sua campanha, recicladas, porém, nas questões que falam alto aos franceses. Le Pen se manteve longe da guerra, ciente de que seus laços com Vladimir Putin a prejudicariam.
Nas últimas semanas, ela vem subindo incessantemente nas pesquisas, embora não tenha conseguido desbancar Macron em nenhuma delas. No primeiro turno, no domingo, a média das pesquisas põe o presidente na dianteira, com 26,5% dos votos, seguido pela candidata de extrema direita, com 23%. Na segunda rodada, Le Pen também está atrás, mas contará com a reserva de votos do eleitorado de Zemmour, que vem migrando para ela.