Temendo reações ideológicas do presidente Bolsonaro, que visitou a Rússia há uma semana e manifestou “solidariedade” ao país em meio à crise com a Ucrânia, diplomatas brasileiros defendem que o presidente não se envolva e deixe o ministro Carlos França, chefe do Itamaraty, conduzir as reações oficiais.
França, apesar de criticado por alguns setores por ter uma reação discreta à crise, é visto como uma figura “pragmática” por fontes do Itamaraty ouvidas pelo blog - e que, até aqui, está “pilotando” as reações brasileiras.
O problema, temem diplomatas, é que uma interferência da ideologia bolsonarista - como era a agenda principal de Ernesto Araújo, antecessor de França - contamine as reações oficiais do Itamaraty, até aqui vistas como dentro do script.
“França não é um Ernesto, é bem pragmático. Não entende muito de política externa, mas escuta quem entende”, avalia um diplomata ouvido pela reportagem.
A principal preocupação é que Bolsonaro decida agradar seus apoiadores pró-Trump e repetir algo na linha do que o seu ídolo ex-presidente americano disse na quarta-feira (23), quando chamou Putin de “gênio”.
Por isso, integrantes do Itamaraty querem Bolsonaro distante das reações e, até agora, consideram a nota do órgão “diplomática”, mesmo sem contundência. Também cobram que o Brasil mantenha seu alinhamento à ONU, de condenar a invasão e buscar uma saída diplomática.
Mas monitoram com preocupação eventuais reações políticas que poderiam ser comandadas pelo grupo ideológico que assessora Bolsonaro no Planalto.