Um áudio do ministro da Educação, Milton Ribeiro, detonou uma crise na pasta nesta terça-feira (23), que dá sinais de se estender pelos próximos dias. Na gravação, divulgada inicialmente pelo jornal "Folha de S. Paulo", o ministro admite que, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, repassa verbas do ministério para municípios indicados por pastores.
Depois que o áudio foi revelado, o ministro negou que Bolsonaro tenha feito o pedido e negou também que os pastores influenciam nas decisões do MEC.
Apesar das negativas de Ribeiro, a situação política dele no comando da pasta se tornou instável. Os desdobramentos da denúncia vão ser decisivos para o futuro do ministro.
O que diz Milton Ribeiro no áudio?
No áudio gravado durante uma reunião de Milton com prefeitos, o ministro diz:
"Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar."
Na reunião, estavam presentes, além dos prefeitos, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
Mais à frente, o ministro acrescenta:
"Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar."
Em determinado ponto da reunião, o ministro diz ainda que há uma contrapartida para esses repasses, mas não dá detalhes sobre isso.
"Então, o apoio que a gente pede não é segredo. Isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas", disse.
Relação dos pastores com autoridades
Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura são personagens com trânsito em gabinetes de altas autoridades em Brasília.
Em 2019, primeiro ano do mandato, estiveram com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Primeiro, em abril, Gilmar Santos foi fotografado ao lado do presidente em uma solenidade.
Em outubro daquele ano, também no palácio, os dois participaram de um evento em que o presidente estava presente e, de acordo com registros oficiais do governo, entregaram a Bolsonaro um livro produzido pela Conimadb.
E também em 2021 os dois se reuniram 18 vezes com Milton Ribeiro, de acordo com registros oficiais.
A agenda do ministro afirma que esses encontros eram de "cortesia" ou para tratar de "obras" ou de "alinhamento político".