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Álcool + frio: pode ajudar a aquecer, mas, em excesso, prejudica a percepção

Nesta onda de frio, ao menos duas mortes foram registradas no estado de São Paulo. Na quarta-feira a capital registrou 6,6ºC
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Amanda Omura

Com as temperaturas geladas recordes que várias cidades no Brasil têm registrado, é comum abrir um vinho ou um destilado para tentar se aquecer.

Mas qual o efeito que o álcool tem na regulação e percepção do frio pelo nosso corpo? E o que acontece no nosso organismo quando esfria?
"O álcool é um depressor do sistema nervoso central. A gente às vezes não percebe isso, pelo menos nas primeiras doses", explica o médico Paulo Zogaib, especialista em Medicina do Esporte do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
"Quando ele dá uma ligeira deprimida no cérebro, na verdade ele está deprimindo, ou inibindo, as nossas inibições. Por isso que a gente fica mais alegre, mais comunicativo", completa. É o que costuma acontecer quando tomamos uma bebida em casa ou em outro ambiente aquecido.

O problema começa quando grandes quantidades de bebida são ingeridas e a pessoa está exposta ao frio, sem proteção, e usa o álcool na tentativa de se aquecer. É algo que pode acontecer, por exemplo, com as pessoas em situação de rua, lembra o médico Carlos Eduardo Pompilio, clínico geral do Hospital Universitário e do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

"Por que o álcool alivia os sintomas do frio? Primeiro, o álcool é extremamente calórico – então, você está recebendo uma quantidade de etanol que vai ser convertida em energia pelo fígado", explica o especialista.

O segundo ponto, diz Pompilio, é que o álcool provoca a dilatação dos vasos sanguíneos – quando eles deveriam estar contraídos, para preservar o calor do corpo.
"O álcool diminui a resposta ao frio, aquele desconforto que a gente tem, então você fica menos desconfortável. Ou seja, passa a tolerar mais o frio. Esse é o perigo. Porque, para tolerar mais o frio, você passa a beber mais, e bebendo mais você vai perdendo a consciência – e você perde a capacidade de reagir ao frio", completa o médico.

À medida que essa capacidade de reação vai diminuindo, a chance de a pessoa morrer de frio – por hipotermia – aumenta.
"Sua temperatura cai: a tendência é de você ficar torporoso, sonolento, você vai perdendo a capacidade de reagir. Vai perdendo mais calor. Eu cheguei a pegar pacientes com 33ºC, 32ºC [de temperatura corporal], de a gente precisar fazer um buraquinho na barriga e jogar soro quente", relata Pompilio.

Como o nosso corpo precisa de temperaturas próximas de 37ºC para manter o metabolismo funcionando, ele vai "desligando" aos poucos quando esfria muito.

Nesta onda de frio, ao menos duas mortes foram registradas no estado de São Paulo nos últimos dias. Na quarta-feira (18), quando a capital paulista registrou 6,6ºC – temperatura mais baixa para maio desde 1990.

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