O avanço dos estudos envolvendo o genoma humano, além do código genético presente nas células tumorais e de forma única em cada indivíduo, fez com que nos últimos anos a análise dos genes se tornasse parte indispensável dessa área da medicina.
O médico José Cláudio Casali da Rocha, chefe de oncogenética do A.C.Camargo Cancer Center, explica que os estudos da genética focados em câncer se dividem em prevenção e tratamento, diagnóstico e acompanhamento.
"A primeira (análise) é chamada de germinativa, e é feita no DNA da própria pessoa. O objetivo é definir características dos indivíduos, detectar uma possível sensibilidade maior de determinados genes a mutações cancerígenas e também marcadores genéticos, por exemplo. Já a chamada somática é uma análise da genômica do tumor, feita para avaliar o comportamento biológico das células dele e entender, entre outros fatores, qual é a chance dele se espalhar."
Esses estudos genômicos, de acordo com Casali, exigem que se criem consensos de tratamento entre diferentes especialistas.
"Não é mais um médico só que define o tratamento hoje. Essa decisão é compartilhada e discutida com o paciente."
Imunoterapia potencializa as defesas do corpo
O tratamento é feito com substâncias que foram desenvolvidas para identificar e atacar características específicas das células cancerosas, bloqueando o crescimento do tumor e permitindo que o organismo do paciente recupere as condições para derrotá-lo.
A descoberta da imunoterapia foi o que rendeu aos imunologistas Tasuku Honjo, japonês, e James Allison, americano, o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 2018.
Os testes com esses medicamentos têm mostrado resultados positivos para cânceres como o de mama, de ovário, de pulmão, de cabeça e pescoço, de bexiga, melanoma, entre outros.
As terapias que usam a imunoterapia também se revelam cada vez mais eficazes, e são uma boa notícia para os próximos anos — a expectativa é de que a técnica se torne mais popular em termos de conhecimento e aplicação, além de mais barata.
No Sistema Único de Saúde (SUS), a primeira imunoterapia disponível gratuitamente para os brasileiros foi aprovada em 2020, beneficiando pacientes com melanoma avançado.
Embora já existam muitas opções de tratamento, nosso sistema público de saúde ainda esbarra em entraves por questões financeiras.
Biópsia líquida é a técnica menos invasiva para detectar e acompanhar tumores
A biópsia líquida é um exame que usa principalmente sangue (embora também possa utilizar urina ou outros fluidos do corpo, como saliva e líquido cefalorraquidiano), para analisar se há a presença de células de um tumor maligno ou de fragmentos do DNA das células tumorais.
"O exame recebe esse nome para se diferenciar da biópsia sólida, na qual você tira um fragmento do tumor e analisa no microscópio, uma técnica mais invasiva", explica Héber Salvador, cirurgião oncológico e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).