Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco, nos Estados Unidos, estudaram os genes associados à predisposição de um ciclo de sono mais curto — até 6 horas — e descobriram que, além de dar aptidão para dormir menos, eles reduzem as alterações cerebrais que levam ao Alzheimer.
O estudo foi realizado em camundongos e, por isso, precisa de novas etapas para uma confirmação dos efeitos em humanos. Ele foi publicado na revista "Cell iScience" e assinado por oito pesquisadores filiados à universidade americana.
Para chegar aos resultados, os autores criaram camundongos que tinham os genes do sono curto e também genes que levam a uma maior predisposição ao Alzheimer — doença neurodegenerativa causada pela morte progressiva de células do cérebro, prejudicando funções como memória, atenção, orientação e linguagem.
Eles descobriram que os camundongos com a genética que leva à tendência para dormir menos também desenvolviam muito menos características associadas ao Alzheimer. Vale esclarecer que pessoas que optam por ter um sono curto, mas não têm os genes, apresentam o efeito contrário: uma chance maior de desenvolver a doença neurodegenerativa.
"Existe um dogma na área de estudo de que todo mundo precisa de oito horas de sono, mas nosso trabalho confirma, até o momento, que a quantidade de sono que as pessoas precisam é diferente de acordo com a base genética", disse o neurologista Louis Ptacek, um dos autores da pesquisa.
Estágio inicial
Rosa Sancho, chefe de pesquisa da Alzheimer's Research do Reino Unido, não assina o estudo, mas comentou o artigo. Ela reforça que o "risco da doença de Alzheimer é uma mistura complexa de idade, estilo de vida e ambiente em que vivemos, bem como os genes que temos".
"Evidências crescentes apontam para uma ligação entre a má qualidade do sono e um risco aumentado de Alzheimer, mas é difícil separar causa e efeito", disse.
"Neste estudo, os cientistas usaram camundongos com características da doença de Alzheimer para medir o impacto que os genes associados a ciclos de sono mais curtos têm nas alterações cerebrais associadas à doença. Eles analisaram dois genes e, embora ambos os genes tenham efeitos ligeiramente diferentes, eles foram associados a uma redução nas características da doença", avaliou.
Trata-se de uma pesquisa "interessante, mas em estágio inicial", na opinião da pesquisadora britânica, e, por isso, é importante "ter cuidado para não extrapolar esses resultados para as pessoas".
"A ligação entre sono e demência é uma área importante e ativa de pesquisa e os cientistas estão fazendo progressos cruciais para desvendar o que pode ser um fator chave que afeta nosso risco de demência" - Rosa Sancho, chefe de pesquisa da Alzheimer's Research do Reino Unido.