As promoções parecem sempre tentadoras. É a oportunidade perfeita de conseguir um item tão desejado por um preço vantajoso. E em datas como a Black Friday, a tentação de comprar é algo comum a boa parte dos consumidores. O problema é quando a vontade de comprar se torna uma compulsão.
Na ciência, a doença é conhecida como oniomania. O transtorno é caracterizado pelo comportamento repetitivo de comprar e gastar descontroladamente, havendo uma falha em resistir a esse impulso. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8% da população mundial sofre com a compulsão por compras.
Consumismo x compulsão
Nem todos que gostam de comprar ou que realizam compras por impulso são diagnosticadas com esse distúrbio. Tatiana Filomensky, psicóloga e coordenadora do Programa para Compradores Compulsivos do Hospital das Clínicas (PRO-AMITI), explica que é preciso diferenciar o consumismo da compulsão.
"O consumista consome como todo mundo consome, pelo prazer, pelo desejo, para estar inserido em um contexto social e cultural. Já o comprador compulsivo consome em excesso. É uma condição muito vinculada a suprir uma necessidade emocional", destaca Tatiana Filomensky.
No caso do comprador compulsivo, há o gasto em excesso porque se procura tratar uma questão emocional com algo concreto. A condição está muito atrelada quadros de ansiedade e depressão.
A psicanalista Monik Sittoni pontua que a compulsão é caraterizada por uma ação por impulso, que não pode ser controlada. "É uma ação que toma conta da pessoa e a leva para uma execução que depois, quando esse impulso acaba, ela não consegue sequer entender qual foi a lógica que aplicou realizando aquele movimento", detalha.
O ciclo mental vivido por aqueles que são diagnosticados com oniomania se assemelha a uma dependência química. Em ambos os casos a pessoa se vê inserida em um sistema de recompensa cerebral, o que aproxima a compulsão por compras de outros tipos de dependências comportamentais.
Por ser um problema de natureza psicológica, requer tratamento especializado e é importante procurar ajuda. "Não é um problema de organização financeira. É um problema emocional que leva a um desequilíbrio financeiro", defende Tatiana.
Black Friday não é a causa
Apesar de ser uma data que estimula o consumo, a Black Friday não desencadeia transtornos de compulsão por compras.
As especialistas explicam que a data é apelativa a todos os consumidores e, no caso daqueles que já tem um problema emocional, pode ser um momento de ainda mais estímulo.
"No caso do comprador compulsivo, há um terreno muito fértil nesse tipo de data, pelo medo de perder uma oportunidade. É uma situação com potencial de ser extremamente viciante e faz com que ele caia facilmente nas estratégias para o consumo", afirma Tatiana.