Na semana passada, assisti ao seminário "Obesity and type 2 diabetes: a joint approach to halt the rise" (em tradução livre, “Obesidade e o diabetes tipo 2: uma abordagem conjunta para deter seu crescimento”). Trata-se da união de forças de duas entidades: a International Diabetes Federation e a World Obesity Federation, que pretendem trabalhar com a Organização Mundial de Saúde, governos, acadêmicos e representantes de pacientes com o objetivo de adotar políticas que possam ser implementadas em escala global. Os números mais recentes, de 2021, dão a dimensão do desafio: aproximadamente 537 milhões de adultos, entre 20 e 79 anos, são portadores de diabetes, contingente que chegará a 643 milhões em 2030 – e há pelo menos 1.2 milhão de crianças e adolescentes diagnosticadas com diabetes tipo 1. Três em cada quatro vivem em países de renda média ou baixa e a doença causou 6.7 milhões de mortes e gastos de 966 bilhões de dólares.
O encontro, virtual, reuniu especialistas e participantes de diversos países e ficou claro que a desinformação continua sendo um sério risco à saúde, principalmente porque muitas culturas ainda relacionam o sobrepeso à prosperidade quando, na verdade, é um fator de risco para inúmeras enfermidades, inclusive o diabetes. Aliás, no Sudeste asiático, a doença é vista como uma decorrência natural, quase inevitável, da senioridade. Wannee Nitiyanant, professora emérita do Royal College of Physicians of Thailand, comentou: “na Tailândia, a riqueza é associada à quantidade de gordura na barriga. Se as crianças são magras, os pais acham que vão ser acusados de não alimentá-las adequadamente”. No chat do evento, participantes do mundo todo compartilhavam informações semelhantes. Na Nigéria, boa parte da população não acredita que alimentos com açúcar tenham relação com a obesidade e acha que os alertas para evitar seu consumo não passam de uma ação para lhes negar acesso a um estilo de vida ocidental. Atividades como caminhar em trilhas são vistas como sinal de pobreza! Em Gana, a obesidade também é sinal de riqueza e mulheres acima do peso representam o padrão de beleza.
Mike Lean, professor da Universidade de Glasgow, onde criou o Departamento de Nutrição Humana, afirmou que precisamos de um esforço planetário para estimular a atividade física e frear o ganho de peso: “quando eu era criança, ninguém comia entre as refeições. Éramos até punidos se fizéssemos isso, mas hoje os lanchinhos são a norma. A alimentação deve ter mais nutrientes e menos calorias. O ideal seria voltar aos padrões tradicionais (por aqui, o bom prato de arroz, feijão, salada e alguma proteína), deixando de lado os ultraprocessados que a indústria nos empurra. Temos que conscientizar as novas gerações que o diabetes encurta vidas. Os jovens fumam menos graças às campanhas mostrando que o cigarro provoca câncer. Eles têm que ser alertados sobre o marketing dos alimentos industrializados”.