Você terá dificuldade para encontrar algum animal que não tenha características inúteis ou rudimentares: olhos atrofiados, asas descartadas ou seios nos machos são apenas alguns exemplos.
São sinais da história, legados de parentes distantes, estruturas sem uso que a evolução tolera por algum tempo ou que reutilizará mais tarde se for necessário - como no caso dos olhos encontrados embaixo da pele de algumas toupeiras, das asas de pinguins usadas como nadadeiras ou das asas de insetos que agora servem de balancins.
Desde o núcleo de cada célula até a arquitetura dos nossos órgãos, o corpo humano também carrega os traços e ferimentos de uma longa e contrastante história evolutiva.
Incongruências reprodutivas
Veja os homens, por exemplo. Qual é a necessidade de a uretra passar exatamente através do centro da próstata, que não tem nenhuma função ligada ao ato de urinar?
O resultado é que, quando a próstata fica inflamada e aumenta de tamanho com o passar dos anos, surgem muitas dores desnecessárias. Não faz absolutamente nenhum sentido, exceto porque, até recentemente, as pessoas não viviam por tempo suficiente para sofrer desse mal.
Pode não fazer sentido, mas assim é a evolução. A imperfeição surge na natureza devido à necessidade de fazer concessões entre diferentes necessidades e caminhos seletivos antagônicos. Isso significa que uma característica vantajosa pode evoluir e prosperar, embora seus usuários paguem o preço na forma de perturbadores efeitos colaterais.
Outro bom caso de estudo é o apêndice. Estudos recentes indicam que ele pode ter vantagens secundárias relacionadas ao sistema imunológico ou agir como depósito de bactérias benéficas no caso de infecções. Mas existem inúmeras soluções anatômicas possíveis que teriam sido mais eficientes e menos dolorosas do que o apêndice.
Outro exemplo é o escroto externo. Ele está presente em muitos mamíferos, incluindo os seres humanos, e sabemos que desempenha um papel importante, resfriando os testículos para a produção de espermatozoides.
Mas muitos mamíferos - incluindo os elefantes, os hiracoides, os tamanduás, os peixes-boi, os musaranhos-elefante e as toupeiras-douradas - têm testículos dentro do corpo, onde são muito menos vulneráveis. Ou seja, o escroto externo é útil, mas não é essencial.