Nos Estados Unidos, maio é o mês da conscientização sobre a saúde mental, o que levou o National Council on Aging, entidade criada em 1950, a realizar um seminário on-line focado nos idosos e, especificamente, sobre uma questão delicada: o suicídio. Foi assim que conheci, virtualmente, Jeffrey Shultz, um homem de 63 anos, fala mansa e uma sofrida história de vida. A carreira promissora no setor de vendas, que o levara a galgar cargos executivos, foi abalroada por um evento dramático: o suicídio de Phil, seu filho caçula, em 2012.
“Eu já havia desacelerado o ritmo para poder me dedicar a ele, que sofria de depressão severa. Depois da sua morte, me vi num quadro de estresse pós-traumático. Em meio à dor e à culpa, afundei na depressão, e sabia que quem perde um filho é mais suscetível a cometer suicídio”, contou. Em 2019, acabou saindo da empresa e a situação só piorou, porque a insegurança financeira se somava ao isolamento. “Tinha até um plano para que minha morte parecesse acidental e minha mulher não perdesse o seguro. Terapia e o trabalho como voluntário, para evitar que outros trilhem esse caminho, me salvaram”, completou.
Para o médico Yeates Conwell, professor de psiquiatria da Universidade de Rochester, há cinco Ds (em inglês) que funcionam como fatores de risco para o suicídio de idosos: depression (depressão), disconnectedness (falta de conexão, isolamento), disease (doença), disability (incapacidade) e deadly means (acesso a meios para fim à vida). “Os idosos são mais frágeis fisicamente e, portanto, o risco de morte aumenta quando tentam suicídio. Normalmente também ficam isolados, o que faz diminuírem as chances de serem socorridos a tempo, além de estarem mais determinados a montar um plano para conseguir seu intento. Por isso as intervenções devem ser assertivas e a prevenção é chave”, alertou.
O doutor Conwell informou que as armas de fogo respondem por 70% dos suicídios entre idosos norte-americanos e que os problemas geralmente estão interligados: “uma dor crônica impede a pessoa de trabalhar ou de realizar suas atividades, provoca seu isolamento e, consequentemente, leva à depressão”. Enfatizou a importância de os serviços de saúde fazerem uma avaliação rotineira para detectar um estado depressivo, através de testes de rastreio como o PHQ-9 (questionário sobre a saúde do paciente); GDS (escala de depressão em geriatria); ou CES-D (Center for Epidemiological Scale-Depression).
O paciente deve responder se perdeu o interesse nas atividades que antes lhe davam prazer; se convive com um sentimento de desânimo e desalento; se tem dificuldade para dormir ou vem dormindo em excesso; se acredita ter decepcionado a família ou si mesmo, entre outras perguntas. “Neste caso, é preciso tomar medidas preventivas para garantir a segurança do indivíduo, como a utilização de medicamentos, psicoterapia e uma rede de apoio”, ressaltou o médico.