Dados compilados pelo Ministério da Saúde apontam crescimento de diagnóstico do vírus HIV em gestantes negras (pessoas pretas e pardas) e de mortes por hipertensão em grávidas pretas.
Em 2021, 67,7% das mulheres diagnosticadas com HIV na gestação eram negras. Em 2011, eram 62,4%.
Já no caso das mortes por hipertensão em grávidas, entre 2010 e 2020, o aumento foi de 5% em mulheres pretas. Houve queda, no entanto, entre grávidas indígenas, brancas e pardas.
O levantamento também indicou que mais de 60% dos diagnósticos por sífilis gestacional ocorreram em mulheres negras.
Os ministérios da Saúde e da Igualdade Racial lançaram nesta segunda-feira (23) duas edições do Boletim Epidemiológico da Saúde da População Negra. Os documentos concentram dados dos sistemas de vigilância da saúde, cruzando as ocorrências com a autodeclaração racial dos pacientes.
O levantamento — primeiro feito pela pasta desde 2015 dedicado inteiramente à saúde da população negra — foi divulgado durante a abertura do Seminário Nacional de Vigilância em Saúde da População Negra, em Brasília.
Para a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o boletim revela a raça como uma determinante social da saúde que influencia a incidência de doenças.
Segundo ela, os dados sinalizam obstáculos no acesso ao sistema de saúde e até mesmo na qualidade do atendimento.
“Há muitas pesquisas que mostram [diferença de tratamento]. Por exemplo, passa pelo número de toques que a pessoa é examinada, o tempo de atendimento”, afirmou Nísia.
De acordo com o boletim, menos de 70% das mulheres negras realizaram mais de sete consultas antes do nascimento do bebê. O acesso ao pré-natal é maior entre brancas (80,9%).
Outro índice que sinaliza problemas no atendimento a gestantes negras é o de recém-nascidos abaixo do peso. Entre bebês de mães pretas e pardas, 10,1% nasceram abaixo de 2,5 kg. Dados do Ministério da Saúde apontam que crianças nascidas com menos de 2,5 kg têm maior risco de mortalidade.
HIV e tuberculose
O boletim apresentado pelos ministérios apontou que negros e negras são as maiores vítimas da Aids, doença causada pela infecção pelo vírus HIV.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2021, 60,5% das mortes pela doença eram de pessoas negras. Dez anos antes, em 2011, o índice era de 52,6%. Os números somam quase dois terços do total de mortes.
O documento também concluiu que, entre 2010 e 2022, mais de 60% dos diagnósticos por tuberculose foram de pessoas pretas. No período, em média, 73 mil casos foram registrados por ano.