Pesquisas realizadas nos últimos meses apontam que os médicos endocrinologistas devem acrescentar a covid-19 como um novo fator de risco para o diabetes.
O último estudo a comprovar uma ligação entre a infecção pelo coronavírus e o desenvolvimento posterior dessa doença, marcada pelo descontrole das taxas de glicose, foi publicado recentemente no periódico especializado The Lancet Diabetes & Endocrinology.
Nele, cientistas do Centro de Epidemiologia Clínica do Sistema de Saúde de St. Louis e da Universidade Washington, nos Estados Unidos, compararam os dados de 181 mil indivíduos que tiveram covid entre março de 2020 e setembro de 2021 com os de 8 milhões de pessoas que não se infectaram com o coronavírus nesse mesmo período.
O diferencial dessa investigação é que os pesquisadores já tinham compilado as informações de saúde de todos esses participantes entre 2018 e 2019, antes de a pandemia começar. Na prática, isso permitiu estimar quantos casos de diabetes eram esperados a cada nova temporada — e como a covid-19 influenciou esse cenário.
Em resumo, os resultados mostram um aumento de 40% no risco de diabetes entre aqueles que foram infectados pelo coronavírus. De cada 100 participantes que pegaram covid, dois tiveram a enfermidade endocrinológica logo na sequência.
O médico Ziyad Al-Aly, autor principal da pesquisa, diz que se surpreendeu ao notar que esse risco foi observado mesmo nas pessoas que não tinham outros fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes, como obesidade, doenças cardiovasculares ou histórico familiar.
"Outra coisa que não esperávamos é que a doença pode aparecer até mesmo nos pacientes com casos assintomáticos ou leves de covid-19", conta à BBC News Brasil.
Vale destacar que, no estudo em questão, o risco de ter diabetes foi maior nos quadros mais graves de infecção, mas essa relação também foi observada em indivíduos que pegaram o coronavírus e não desenvolveram incômodos tão sérios
A médica Hermelinda Pedrosa, ex-presidente do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, que não participou do estudo americano, avalia que os resultados obtidos são mesmo suficientes para encarar a covid-19 como fator de risco adicional para o diabetes.
"Esses dados vêm de um trabalho muito bem feito, com uma metodologia robusta e uma comparação que levou em conta o histórico pré-pandemia e o diagnóstico de covid", elogia.
"As pessoas que tiveram covid devem ficar atentas e eventualmente até passar por uma avaliação médica, especialmente se já apresentam obesidade, hipertensão, colesterol alto, doenças cardiovasculares ou tem histórico familiar de diabetes", orienta a endocrinologista, que também coordena um dos polos de pesquisa do Hospital Regional de Taguatinga, no Distrito Federal.