"Hoje descobri que nem todo mundo tem um monólogo interior, na própria cabeça — e isso arruinou meu dia."
Esse foi o título de um texto de blog que apareceu há algum tempo e provocou um acalorado debate tanto na mídia quanto nas redes sociais.
Aqueles que descobriram as tais "vozes na cabeça" começaram a olhar com desconfiança para os indivíduos ao redor que não partilham da mesma experiência.
Mundos diferentes
Charles Fernyhough, escritor e psicólogo da Universidade de Durham, no Reino Unido, ficou satisfeito e intrigado com a reação à postagem de blog.
"Estudei o discurso interior durante grande parte da minha carreira e, de repente, as pessoas estavam delirando sobre algo que, para mim, sempre pareceu um ramo negligenciado da psicologia."
Negligenciado, talvez, porque nosso mundo interior nos é tão familiar que raramente prestamos atenção nele.
"Quando fazemos isso, descobrimos que é algo muito variado, o que significa que não devemos supor que os mundos internos de outras pessoas tenham alguma semelhança com o nosso", diz o especialista.
"Quase todo mundo passa a vida pensando que as experiências dos outros são como as suas", diz o professor Russell T. Hurlburt, que passou a carreira inteira tentando capturar o que chama de "experiência interior pura".
Foi justamente a investigação de Hurlburt que provocou furor nas mídias sociais.
"É difícil não supor que todos passam pelo mesmo que você, porque nunca temos a chance de ver a experiência interior de outra pessoa."
Em defesa do barulho
Essas mentes silenciosas, além de livres de imagens ou sons, podem se manifestar com sentimentos e também com algo que não tem qualidade sensorial. Não há palavras, imagens ou sensações. É algo que Hurlburt chama de "pensamento simbolizado".
Porém, por mais encantadoras que pareçam as histórias de Lauren, Mary e Justin, será que o silêncio é sempre bom?
"Para que servem todas essas palavras, se ela não estão fazendo algo útil?", questiona Fernyhough.
"As pesquisas mostram que as conversas que temos conosco parecem ter se desenvolvido a partir dos diálogos que mantemos com os outros à medida que envelhecemos.
Estudar como as crianças falam em voz alta enquanto jogam ou resolvem um quebra-cabeça foi o que levou Fernyhough a abordar o discurso interior, ainda como estudante de doutorado.
Fernyhough acrescenta que esse costume ajuda a narrar e a organizar as memórias do passado ou as reflexões sobre o futuro.