Bater nas portas das casas para verificar a condição de saúde das pessoas e detectar problemas antes que eles se agravem é uma prática comum no Brasil. Mas essa abordagem poderia funcionar no Reino Unido?
As agentes Comfort e Nahima estão em sua rotina em Churchill Gardens, uma área localizada no bairro de Pimlico, em Londres. Vestidas com uma blusa de lã azul, as duas sobem constantemente as escadas de concreto de cada prédio dos quarteirões onde trabalham.
Comfort, uma enfermeira aposentada, visitou Stanley Smithson, de 88 anos.
Ele diz que "a solidão é um aspecto muito assustador da velhice", que ele não percebia até que uma de suas filhas se mudou para a Nova Zelândia.
Nesse contexto, ele brinca que as visitas de Comfort representam exatamente o que o nome dela significa em inglês — um conforto.
"Ela está sempre de olho em mim. Percebo que ela está sempre anotando discretamente e fazendo algumas observações", diz Smithson. "E então, antes que eu perceba, recebo uma orientação para ir a uma clínica ou fazer um exame de sangue."
A inspiração para a iniciativa vem de uma abordagem de saúde que tem funcionado nas regiões mais pobres do Brasil atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) durante as últimas décadas.
O Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde do Reino Unido ajudou a processar os dados do projeto-piloto. Os domicílios que receberam visitas regulares tiveram 47% mais chances de aceitar as vacinas e 82% mais probabilidade de fazer o rastreamento do câncer, em comparação com outras áreas não atendidas.
A ideia de importar esse modelo para o Reino Unido partiu de Matthew Harris, especialista em saúde pública do Imperial College London, que trabalhou como clínico-geral no Brasil durante quatro anos.
Na experiência brasileira, os agentes comunitários de saúde foram diretamente responsáveis por uma queda de 34% nas mortes por doenças cardiovasculares.
"No Brasil, eles escalaram esse papel a tal ponto que possuem atualmente 270 mil agentes comunitários de saúde em todo o país, e cada um cuida de 150 famílias, visitando-as pelo menos uma vez por mês", pontua Harris.
"Eles tiveram resultados extraordinários em termos de saúde da população nas últimas duas ou três décadas. Acreditamos que temos muito a aprender com isso."