Há dois anos, quando a Mercedes empilhava troféus de vitórias e oito títulos de construtores, quem imaginaria que a equipe voltaria a terminar um campeonato da F1 sem vitórias? Foi o que aconteceu em 2023, apesar de seu vice-campeonato de equipes e do terceiro lugar no Mundial de pilotos com Lewis Hamilton. E a responsabilidade pelo primeiro ano sem triunfos desde 2011 se deve principalmente ao W14, seu imprevisível carro da temporada; mas o que exatamente deu errado?
Marca de nascença
Reconhecida a ineficiência dos "zeropods" em 2022, a Mercedes não o repetiria em 2023, certo? Errado. A equipe chegou com um modelo semelhante com foco na suspensão traseira para evitar os saltos (bouncing e porpoising). Não funcionou, e nem a aclamada pintura preta trouxe sorte: na abertura do campeonato no GP do Bahrein, o time ficou a 50s do vencedor Max Verstappen.
- Não acho que esse pacote será competitivo, eventualmente. Damos nosso melhor ao longo do inverno e agora precisamos nos reagrupar, sentar com os engenheiros e decidir qual é a direção que queremos seguir no desenvolvimento para garantir que estejamos competitivos para vencer corridas - declarou Wolff após a corrida.
O "zeropod" só foi descartado com a primeira grande atualização do ano, no GP de Mônaco, no qual o assoalho e suspensão também foram atualizados. A partir dali, a octacampeã faturou seis de seus sete pódios de 2023. Os sidepods foram remodelados mais uma vez junto com o assoalho no segundo maior pacote de atualizações do ano: na Bélgica, metade do campeonato.
Downforce ineficiente e excesso de arrasto
- Estamos muito aquém em termos de downforce, então temos que aumentá-lo na parte traseira. Quanto mais traseira ganharmos, mais estável ela ficará e eu poderei atacar com mais confiança. Mas mesmo que mudemos isso, há algo específico no carro que eu nunca tive antes. É o que tem me deixado desconfortável - apontou Hamilton.
O downforce (gerado pelo assoalho do carro, asas traseiras, dianteiras, e sidepods) "gruda" o carro ao chão dando equilíbrio e aderência nas curvas. Porém, afeta o ritmo nas retas e causa arrasto (drag), força que "empurra" o veículo para trás deixando-o lento e forçando o motor. Ao reduzir o downforce, a traseira fica instável e há perda nas curvas; o W14 não conseguiu compensar nem um, nem outro.