Nada como uma guerra na Europa, uma crise energética de grandes proporções e a desaceleração da economia global para reabilitar um ditador sanguinário. No caso, o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, que em menos de duas semanas teve encontros com líderes mundiais, tentando enterrar a reputação de pária internacional, sacramentada pelo esquartejamento do jornalista Jamal Khashoggi, há quatro anos.
Primeiro foi Joe Biden, recebido pelo príncipe em Jeddah. Agora, Emmanuel Macron, anfitrião de um jantar privado no Palácio do Eliseu, com a justificativa de debater a crise econômica e o Irã. O preço do petróleo subiu mais de 30% desde o início do ano e fez com que os dois estadistas recorressem ao maior produtor do mundo.
Enquanto o presidente americano, constrangido, evitou contato físico com o príncipe e optou pelo soco de mãos, o francês foi caloroso na saudação a MBS, como ele é conhecido. Da mesma forma que nos EUA, a recepção desatou a indignação na França.
“A reabilitação do príncipe assassino será justificada na França como nos Estados Unidos por argumentos de realpolitik. Mas, na verdade, convenhamos, é a barganha que predomina", constatou a secretária-geral da Anistia Internacional, Agnes Callamard.
Kenneth Roth, diretor-executivo da Human Rights Watch, argumentou não ser suficiente Macron abordar preocupações com os direitos humanos, conforme destacou o Palácio do Eliseu. “O que o povo saudita que busca seus direitos vai ouvir? Eles se sentirão abandonados por Macron.”
Khashoggi entrou no consulado saudita em Istambul, em outubro de 2018, a fim de obter documentos para casar-se com a noiva turca e de lá não saiu. Foi assassinado por um esquadrão saudita nas dependências do consulado e esquartejado. Um informe da inteligência americana acusou MBS de ter autorizado a operação.
Em sua campanha para a Casa Branca, Biden classificou o reino como pária. Como presidente, pôs o príncipe na geladeira. Mas saiu de mãos vazias de Jeddah, em sua tentativa de se reaproximar do reino e ver a produção de petróleo aumentar e os preços do combustível baixarem nos EUA.