Charles Denby diz que seu trabalho consiste em simplesmente tentar melhorar o sabor da cerveja.
"Queremos priorizar os melhores sabores, reduzir os que não são tão bons e criar novos."
A proposta parece ótima para os milhões e milhões de consumidores de cerveja pelo mundo. Mas, quando se entende o que a empresa de Denby nos EUA realmente faz, as coisas ficam um pouco mais controversas.
Ele é cofundador e executivo-chefe da Berkeley Yeast, um dos principais criadores de levedura geneticamente modificada (GM) para a indústria cervejeira.
A levedura é fundamental para a fabricação da bebida, porque transforma em álcool os açúcares fornecidos pelo malte de cevada e outros grãos, ao mesmo tempo em que adiciona seus próprios sabores.
A Berkely Yeast edita o DNA de cepas de levedura para remover ou adicionar determinados genes. Um de seus produtos, a levedura Tropics, foi alterado para ter sabores de maracujá e goiaba.
Denby diz que esta levedura faz mais sentido para os fabricantes de cerveja do que depender de um fornecimento dessas frutas, além de ser melhor do que usar sabores artificiais.
"Faz mais sentido ter levedura produzida por bioengenharia, e isso reduz a dependência de ingredientes adicionais como, por exemplo, ter que ter um pomar de pêssegos florescendo mês após mês, ano após ano", diz.
A Berkeley Yeast, com sede em Oakland, na Califórnia, não se dedica apenas a adicionar sabores - ela também pode retirá-los. Uma de suas cepas de levedura ajuda a eliminar o diacetil, substância que prejudica o sabor de algumas cervejas.
Enquanto isso, ele diz que outra de suas leveduras é capaz de criar uma cerveja amarga ao estilo belga em uma fração do tempo que normalmente levaria.
Quem mora nos EUA, onde as leis sobre alimentos geneticamente modificados são mais flexíveis do que na maioria dos países, talvez já tenha experimentado cervejas feitas com produtos da Berkeley Yeast, pois elas já estão sendo usadas por cervejarias artesanais em todo o país.
Limitações da legislação
Mas, no que diz respeito às vendas no exterior, Denby diz estar limitado pela legislação de outros países, que impede a utilização de modificações genéticas na indústria alimentar e de bebidas.
O Brasil, por sua vez, é o segundo maior produtor de alimentos transgênicos do mundo, depois dos Estados Unidos.
No Reino Unido, por exemplo, alimentos geneticamente modificados podem ser autorizados se forem considerados "sem risco para a saúde, não enganando os consumidores, [e] não tendo menos valor nutricional do que os seus homólogos não geneticamente modificados".
E devem ser rotulados como provenientes de uma fonte geneticamente modificada.