Você está em:

Como o preconceito contra os mais velhos impacta os cuidados na saúde

Inteligência artificial precisa de informações para melhorar diagnósticos e a qualidade dos serviços, mas idosos são “minoria”
Picture of Amanda Omura

Amanda Omura

Através de exames de ressonância magnética do cérebro, é possível constatar que expectativas positivas – por exemplo, a crença de que uma medicação vai ser eficaz – podem produzir mudanças químicas e hormonais no organismo, ainda que o tal remédio não tenha ingredientes ativos. Isso é o que ocorre no chamado efeito placebo: uma substância inócua é empregada como se tivesse alguma eficácia e, de acordo com pesquisadores, em um terço dos casos provoca a melhora de sintomas.

Da mesma forma que um sentimento de otimismo pode desencadear respostas favoráveis em nosso corpo, o contrário também acontece e tem nome: efeito nocebo, que define os eventos adversos associados a expectativas negativas.
Imagine um contexto no qual a pessoa recebe, com frequência, informações negativas sobre a situação na qual se encontra: infelizmente, trata-se de algo recorrente para os idosos. O preconceito contra os velhos é tão arraigado em nossa sociedade que alimenta (ou envenena?) o envelhecimento com visões negativas, tanto para quem vive como para quem convive com a experiência.

Na área da saúde, ele impede que um sobrevivente de acidente vascular encefálico de 70 anos tenha à sua disposição o mesmo nível de suporte de alguém de 35 anos com quadro semelhante. Diminui as opções oferecidas a idosos para alcançar uma recuperação plena, como se, para esses, bastasse o mínimo. O exame citopatológico, conhecido como preventivo ou Papanicolau, utilizado para detectar o câncer de colo de útero, só é agendado no SUS para mulheres até 64 anos. Falemos de tecnologia de ponta: a inteligência artificial se baseia em bancos de dados para melhorar diagnósticos e a qualidade dos serviços, mas os mais velhos são considerados “minoria” e estão sub-representados em pesquisas e levantamentos. Como beneficiar esse grupo acossado pela exclusão?

Em 2020, publiquei coluna a respeito do maior estudo já realizado sobre as consequências do preconceito na saúde dos idosos. O trabalho, liderado pela psicóloga e epidemiologista Becca Levy, professora da Universidade Yale, reuniu dados de 7 milhões de pessoas em 45 países. A análise consistiu na revisão de 422 estudos publicados no mundo todo, entre 1970 a 2017, e 96% mostravam evidências de efeitos adversos do preconceito no acesso a cuidados de saúde. Também ficava claro que os estereótipos culturais afetam o bem-estar dos mais velhos. Os pesquisadores mapearam que o preconceito impactava as chances de pacientes mais velhos receberem tratamento médico adequado. Além disso, foram observadas evidências de que o acesso à saúde havia sido negado a idosos e, em 92% das pesquisas internacionais, havia indicação de que influía nas decisões médicas.

Posts Relacionados

Por que o risco de osteoartrite é maior em mulheres na pós-menopausa

Por que o risco de osteoartrite é maior em mulheres na pós-menopausa

A osteoartrite é uma doença das articulações, que se caracteriza pela degeneração das cartilagens, com alta prevalência entre idosos

Glutamina: o que é o aminoácido que fortalece imunidade

Glutamina: o que é o aminoácido que fortalece imunidade

Embora a indústria ofereça diversas versões desse suplemento, a glutamina já está presente no nosso corpo

Lipedema: a ‘nova’ doença na lista da OMS que talvez você tenha sem saber

Lipedema: a ‘nova’ doença na lista da OMS que talvez você tenha sem saber

Doença foi descrita pela primeira vez em 1940 e que até hoje é comumente confundida com obesidade ou excesso de gordura

FPS 30, 60 ou 100: o fator de proteção solar realmente importa?

FPS 30, 60 ou 100: o fator de proteção solar realmente importa?

O fator de proteção solar (FPS) indica o tempo adicional que sua pele pode ficar exposta ao sol sem se queimar

Afinal, comer ovo faz bem ou faz mal à saúde? Confira o que diz a ciência

Afinal, comer ovo faz bem ou faz mal à saúde? Confira o que diz a ciência

Um estudo descobriu que adicionar um ovo à salada pode aumentar a quantidade de vitamina E que nosso organismo incorpora

O que acontece com o corpo quando você toma pouca água?

O que acontece com o corpo quando você toma pouca água?

Trabalhadores do campo, que têm mais dificuldade de manterem a hidratação frequente diante de temperaturas mais altas

O que acontece se eu tomar água com limão todos os dias?

O que acontece se eu tomar água com limão todos os dias?

Equipe do pesquisador francês Cyril Rivat busca entender por que moléculas como a morfina pioram a dor de certos pacientes

Alho, canja, vitamina C, zinco: o que funciona contra o resfriado

Alho, canja, vitamina C, zinco: o que funciona contra o resfriado

Existem cerca de 200 vírus que causam a infecção. E parece haver quase a mesma quantidade de remédios caseiros

pt_BRPortuguese