Nossa memória guarda muitas das coisas que acontecem com a gente durante o dia, mas grande parte acaba sendo esquecida.
No entanto, temos certa facilidade em guardar as recordações ruins, apesar de não ser um processo gratuito: nosso sistema nervoso precisa modificar certos circuitos neurais, com a consequente síntese de proteínas e gasto de energia celular.
É curioso: todo esse esforço para guardar uma memória que certamente nos deixará sequelas psicológicas e, no pior dos casos, nos causará transtorno de estresse pós-traumático. Por quê?
Parte da explicação se baseia no fato de que estas experiências negativas estão fortemente associadas a emoções. E nosso cérebro classifica e armazena memórias com base em sua utilidade, considerando que aquelas vinculadas a emoções são úteis para nossa sobrevivência.
Se ficamos com muito medo ao atravessar uma área perigosa da cidade, o cérebro armazena isso para que não façamos novamente.
A situação se complica quando a experiência é realmente traumática. Neste caso, nosso órgão pensante tende a esconder essas experiências, mas as armazena sem processar. Como um mecanismo rápido de defesa, tudo bem.
O problema surge quando, por qualquer motivo, as lembranças ruins reaparecem. Aí o dano pode ser muito grande por se tratar de experiências que foram arquivadas "cruas".
Luz e som para eliminar experiências traumáticas
A neurociência parece ter encontrado algumas peças do quebra-cabeça que podem nos ajudar. Até mesmo o menor fator poderia desempenhar um papel importante na hora de determinar se guardamos ou excluímos uma memória.
Por exemplo, a luz, algo tão comum e que afeta a todos, inclusive as moscas (Droshopila melanogaster), que são capazes de esquecer acontecimentos traumáticos quando mantidas no escuro. E tudo graças a uma proteína que atua como moduladora da memória e que — esta parte nos interessa — está evolutivamente bastante conservada.
Em outras palavras, a proteína está presente em todos os animais, inclusive em humanos. A explicação pode ser relativamente simples: a luz atua como um modulador das funções cerebrais, incluindo a manutenção da memória.
Sono, processador da memória
Os sons são outra peça importante, especialmente quando dormimos. O sono é essencial para o processamento da memória.
Durante o dia nosso cérebro instala aplicativos (memórias), e à noite os atualiza. Desta forma, a memória recém-adquirida seria transformada em memória de longo prazo durante o descanso noturno.