O abuso pode ocorrer de diversas formas: verbal, físico, emocional, um abuso que não fica muito claro, que vem por mensagens subliminares. A psicóloga clínica Liliana Seger explica que os sinais de um relacionamento abusivo ou tóxico podem aparecer no começo da relação, em tom de "brincadeira".
"Como você é lerda, como você é burrinha. Quando falado em tom de brincadeira, esse sinal passa desapercebido pela outra pessoa. É importante entender que esse já é um alerta, já existe um desrespeito se a pessoa fala dessa forma", diz a doutora em psicologia pelo Instituto de Psicologia da USP.
"Podem achar que é bobagem, que é mimimi, mas não é. O relacionamento abusivo existe e começa com um tapinha, um segurar o braço numa discussão, um empurrãozinho, um jogar em cima da cama até o total (a morte). É muito importante que isso seja falado, visto e orientado [como aconteceu no programa]. Não é normal, não é natural", completa Seger.
O ciclo do relacionamento abusivo
Os abusadores seguem um padrão de comportamento universal. O relacionamento começa como todos os outros, mas depois se alterna entre momentos de tensão, violência e reconciliação.
A primeira pesquisadora a identificar o ciclo foi a psicóloga Lenore E. Walker. Ele foi descrito da seguinte forma:
Construção das tensões: ocorrem o controle do comportamento, o isolamento da vítima, ofensas verbais e humilhações;
Explosão da violência: há agressão física, violência patrimonial, violência moral, violência sexual ou violência psicológica;
Lua de mel: a pessoa pede perdão, enche a parceira/parceiro de promessas de mudança, há reconciliação e reconstrução do vínculo.
Segundo Seger, normalmente as pessoas que estão em uma relação tóxica ficam sem graça de chamar a atenção do parceiro(a). Muitas vezes, quando sinalizam, acabam ouvindo que tudo não passou de brincadeira e o famoso "eu te amo". Logo depois, o ciclo recomeça…
Não é brincadeira
Seger diz que os primeiros sinais podem parecer "bobinhos", mas não são. Diminuir uma pessoa com brincadeirinhas, com pequenos gestos que parecem "engraçadinhos" já é considerado um alerta vermelho.
A "brincadeira" pode vir acompanhada do controle da comida e de ações, por exemplo, como cercear o direito da vítima de ir e vir. Para a pessoa que está nesse tipo de relação, ciúmes e controle são vistos como sinal de amor. Também é preciso observar se o parceiro é sempre agressivo ou se fica mais agressivo quando é contrariado.
"É importante perceber os pequenos sinais e buscar ajuda", alerta a psicóloga.
Em muitos casos, é só no momento da violência aguda que a vítima vai procurar ajuda, e já pode ser tarde demais.
Pessoas próximas também podem tentar intervir, mas nem sempre a vítima consegue enxergar que está num relacionamento tóxico.