Quatro vezes primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi tinha habilidade nata para ressurgir das cinzas quando a sua morte política era decretada.
Tanto que abriu caminho para uma classe de políticos populistas, que se arvoraram como salvadores da pátria justamente emergirem de fora do establishment político.
É inevitável o paralelo com Donald Trump, dez anos mais moço, que surgiu na política americana duas décadas depois de o “Cavalieri” se firmar na Itália. Ambos ascenderam ao poder como dois multimilionários e sem experiência política, boquirrotos e protagonistas de escândalos sexuais.
Também se envolveram em fraudes financeiras e investigações policiais, mas se venderam como vítimas do “políticamente correto”, da perseguição da mídia e do Judiciário e, enfim, de uma fictícia caça às bruxas.
Berlusconi foi pioneiro nesse sentido, o de apelar para exageros e convencer seu eleitorado. Chegou a se definir como “a pessoa mais perseguida na história de toda a história do mundo e da história do homem”.
Enfrentou três dúzias de processos na Justiça, mas emergia dos escândalos com popularidade entre a sua base. Em setembro passado, elegeu-se senador, voltando à Casa que o expulsou em 2011.
É o que observamos acontecer atualmente com Trump, o primeiro ex-presidente americano a ser acusado formalmente duas vezes pela Justiça e, talvez por essa razão, o pré-candidato favorito entre os republicanos a garantir a vaga para concorrer à Casa Branca no próximo ano.
O ex-premiê italiano colecionou amigos que os aliados tinham como inimigos, como o ditador Muamar Kadafi, da Líbia, e o presidente Vladimir Putin, da Rússia.
Líder do Força Itália, de direita, Berlusconi fortaleceu a extrema direita em seu país, aliando-se a parceiros com a retórica xenófoba e com raízes no fascismo.
Juntou-se à atual primeira-ministra, Giorgia Meloni, do partido Irmãos de Itália, e ao chefe da Liga, Matteo Salvini, para formar o primeiro governo de extrema direita a ascender no país desde a Segunda Guerra.