Não se contesta a alta popularidade de Nayib Bukele no comando de El Salvador, mas para se reeleger presidente do país, pela primeira vez em um século, ele precisou concentrar todo o poder em suas mãos, controlando Legislativo e Judiciário.
Declarou-se vencedor antes de os salvadorenhos conhecerem os resultados oficiais, numa apuração obscura, em que o site do TSE ficou três horas fora do ar, e a imprensa foi barrada da contagem preliminar.
Neste segundo mandato — inconstitucional por natureza e permitido graças a juízes nomeados por ele — Bukele governará absoluto, em regime de partido único. No ano passado, o Congresso foi reduzido de 84 para 60 legisladores, e o número de municípios caiu de 262 para 44.
O resultado dessa manobra foi anunciado menos de duas horas após o fechamento das urnas pelo próprio presidente: “Vencemos as eleições presidenciais com mais de 85% dos votos e um mínimo de 58 de 60 deputados”, proclamou.
Bukele abriu o caminho para solidificar, assim, o regime ditatorial em El Salvador, ainda que desfrutando de enorme prestígio entre a população. Sem opositores, ele afastou do Congresso os dois principais partidos – o esquerdista FMNL e o direitista Arena — e terá aval para manter o regime de exceção, em vigor desde março de 2022, e mudar o sistema político do país, como bem entender.
No palanque da vitória, Bukele chamou seu modelo de democrático. “Toda a oposição em conjunto foi pulverizada”, comemorou.
A propaganda do presidente se escora na redução de homicídios, no combate às gangues MS13 e Barrio 18, no encarceramento de mais de 70 mil pessoas — que representam 1% da população — e na construção de uma megaprisão, que ele se vangloria de ser a maior do continente.
Tudo isso assegurou a Bukele o título de presidente mais popular da América Latina, mas que, num paradoxo, está a ponto de consolidar El Salvador como uma ditadura.
Como afirmou em editorial o jornal “El Faro” - que, em função da perseguição do governo, passou a operar na Guatemala - os próximos cinco anos apenas prometem intensificar a concentração de poder, a utilização de bens e pessoal do Estado, a opacidade, a repressão e a punição.