O regime de Daniel Ortega despachou 222 presos políticos diretamente das prisões para o exílio nos Estados Unidos e ainda aprovou a reforma de um artigo na Constituição para tirar deles a nacionalidade nicaraguense e torná-los apátridas.
Entre os exilados, estavam os sete candidatos que tentaram desafiar o ditador na eleição de 2021 e foram encarcerados. Sem adversários, ele assegurou o quarto mandato consecutivo.
Considerados traidores da pátria pela ditadura, os presos chegaram num voo fretado a Washington, onde receberam asilo por dois anos. Relataram o inferno de maus tratos, isolados em condições deploráveis nas prisões de segurança máxima.
A suspensão dos direitos de cidadania é proibida pela Constituição da Nicarágua: “Nenhum cidadão pode ser privado de sua nacionalidade”, diz a Carta. No regime de Ortega, contudo, a retirada desses direitos será incorporada como a “morte civil” do cidadão que não se enquadra aos seus desígnios.
O Parlamento, dominado pelo ditador, assim como os demais poderes do Estado, aprovou a modificação do artigo 21. Até a deportação é ilegal, pois refere-se somente a cidadãos estrangeiros e não aos nacionais, esclareceu o Centro de Direitos Humanos da Nicarágua.
Foram para o exílio, porém em liberdade, conforme resumiu o escritor Sergio Rodriguez, ex-vice-presidente da Nicarágua, que também está exilado.
A nova condição de apátridas e a suspensão dos direitos políticos não desanimou os dissidentes que desembarcaram em Washington. “Serei nicaraguense até o dia da minha morte”, protestou o ativista Felix Maradiaga, de 46 anos, dirigente da Unidade Nacional Azul e Branco, acusado pela ditadura de ser um dos líderes dos protestos de abril de 2018.
Bastante magro e recebido no exílio pela mulher Berta e a filha Alejandra, de 9 anos, que ele não via há mais de três, contou que todos foram retirados de suas celas, durante a madrugada, e colocados em ônibus, sem saber o destino. Imaginaram que estavam sendo transferidos para uma penitenciária perto do aeroporto.