Especialistas do Reino Unido acreditam ter identificado a causa da recente onda de misteriosos problemas hepáticos que afetam crianças pequenas em todo o mundo.
As investigações sugerem que dois vírus comuns voltaram a circular após o fim das restrições impostas pelos governos para controlar a pandemia da Covid-19 — e desencadearam os raros, mas muito graves, casos de hepatite.
Acredita-se que mais de mil crianças — muitas com menos de cinco anos — em 35 países foram afetadas.
Algumas delas, incluindo 12 no Reino Unido, precisaram de um transplante de fígado para continuar vivendo.
No Brasil, casos suspeitos foram investigados pelo Ministério da Saúde, com sete mortes confirmadas até meados de junho.
Duas equipes de pesquisadores, de Londres, na Inglaterra e Glasgow, na Escócia, dizem que bebês expostos mais tarde do que o normal — por causa das restrições da pandemia — perderam alguma imunidade precoce a:
Adenovírus, que normalmente causa resfriados e dores de estômago;
Vírus adeno-associado dois (AAV2), que normalmente não causa doença e requer um vírus "auxiliar" coinfectante — como o adenovírus — para se replicar.
Isso poderia explicar por que alguns desenvolveram complicações hepáticas incomuns e preocupantes.
Caso
Noah, de três anos, que mora em Chelmsford, Essex, precisava de um transplante urgente de fígado depois de ficar gravemente doente com hepatite.
Sua mãe, Rebecca Cameron-McIntosh, diz que a experiência foi devastadora.
"Não tinha nada de errado antes, e de repente a saúde dele mudou. Acho que foi isso que nos pegou de surpresa."
"Nós apenas assumimos que era um pequeno problema que seria facilmente resolvido — mas o quadro continuou a se desenvolver."
Inicialmente, Rebecca estava na fila para doar parte de seu fígado — mas, após uma grave reação às drogas usadas, ela acabou na UTI.
Noah foi colocado na lista de transplantes e, logo depois, recebeu um novo órgão.
Sua recuperação foi boa — mas ele precisará tomar medicamentos imunossupressores por toda a vida, para impedir que seu corpo rejeite o novo fígado.
"Há algo realmente comovente nisso porque você segue as regras, faz o que deve fazer para proteger as pessoas que são vulneráveis e então, de uma maneira horrível e indireta, seu próprio filho se tornou mais vulnerável porque você fez o que deveria fazer", diz a mãe.
Casos como este são raros. A maioria das crianças que pegam esses tipos de vírus se recuperam rapidamente.