Juliana Giordano, da Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras, explica que um dos pontos centrais para que as pessoas se sintam confortáveis durante exames físicos, especialmente os ginecológicos, é a comunicação entre médico e paciente.
“Os médicos precisam informar antes do exame ou do procedimento o que vai acontecer, quais instrumentos serão usados, quais partes do corpo serão tocadas e também o porquê da realização daquilo”, diz.
“Vai fazer palpação das mamas? Explique o procedimento. Vai sugerir um papanicolau? Explique como funciona em detalhes, caso a pessoa não conheça o exame, e esclareça o porquê você o está indicando”, diz.
A ginecologista e obstetra destaca ainda a importância do consentimento. Segundo ela, os médicos deveriam sempre pedir licença ou permissão para examinar os pacientes, mesmo que a pessoa pareça confortável.
“E isso vale para qualquer exame de toque, seja ausculta do coração ou do pulmão, exame de toque de tireoide ou abdômen”, afirma.
Além disso, sempre que acharem necessário, os pacientes devem fazer perguntas e questionamentos sobre o que está acontecendo.
“Fazer perguntas, entender o porquê daquele toque, é uma forma de se proteger”, diz. “Se o profissional começar a apresentar sinais de desconforto em responder não é bom sinal. Ele pode não necessariamente ser um abusador, mas não está seguindo as regras de consentimento e respeitando a relação médico paciente.”
Nesses casos, segundo a médica, é direito do paciente interromper a consulta ou exame imediatamente.
Maria Celeste Osorio Wender, diretora de defesa e valorização profissional da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), afirma ainda que é dever do especialista permitir a presença de um acompanhante na sala, sempre que o paciente desejar.
“Muitos ginecologistas já adotam como rotina manter a presença de uma enfermeira ou secretária na sala durante a realização de exames físicos, mas não é uma prática obrigatória”, explica. “Mas se a paciente solicita que seu acompanhante fique na sala, o médico tem que permitir.”
Os pacientes que desejarem usar um espelho para acompanhar o exame ginecológico ou se sentirem mais confortáveis com a maca um pouco mais inclinada, de forma que consigam enxergar o médico, também podem solicitar a qualquer momento.
Toques fora do padrão
Wender afirma que também é importante manter a atenção aos toques que fogem do padrão do procedimento médico.
“O toque ginecológico faz parte do exame de rotina e tem como objetivo determinar o volume e posição do útero ou se tem alguma massa. Ou seja, não há necessidade de toques repetidos no clítoris ou pequenos lábios, por exemplo”, diz.
Segundo a especialista, o exame de palpação das mamas é padrão e importante, mas deve ser feito com respeito e diante da autorização do paciente.
Quando se trata da medicina diagnóstica, Maria Celeste Wender explica que os toques são menos frequentes. Exames de papanicolau, ultrassom transvaginal ou de mamas e mamografia, por exemplo, geralmente não envolvem palpação ou introdução dos dedos.