Neste ano, o Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento completa 20 anos – foi a primeira iniciativa global para fazer frente à mudança do perfil demográfico da população. Também estamos no segundo ano da Década do Envelhecimento Saudável: a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu que o período entre 2021 e 2030 deveria ser dedicado a facilitar a participação de idosos em suas comunidades e contribuição à sociedade, assim como para garantir o acesso aos cuidados necessários. Há boas ideias de sobra e, infelizmente, esforços efetivos de menos, e o bônus da longevidade nos apresenta um enorme desafio: estamos vivendo mais, mas e a qualidade dessa existência? Faço tal introdução porque o aumento do número de centenários deixou de ser uma expectativa para se transformar em realidade. Segundo o Centro de Longevidade de Stanford, pelo menos metade das crianças norte-americanas com 5 anos chegará aos 100. O desdobramento disso?
Pode-se considerar razoável que o tempo de vida profissional dos indivíduos chegue a 60 anos, porque não haverá sistema de previdência que aguente um contingente tão grande fora mercado. Se hoje, com a aposentadoria por volta dos 65, a maioria considera que quatro décadas de labuta são um fardo pesado, o futuro soa apavorante.
Em artigo para “The Atlantic”, o jornalista Joe Pinsker alerta que o importante é redesenhar o trabalho, porque o modelo existente se tornará simplesmente inviável. Na verdade, o que se convencionou chamar de meia-idade se converteu numa fase com tantas demandas que uma sensação de esgotamento ronda as pessoas. Abordei a questão em algumas colunas e no meu livro, “Menopausa – o momento de fazer as escolhas certas para o resto da sua vida”: temos que lidar com exigências profissionais mais desafiadoras do que as do início de carreira; cuidar de filhos; e, com frequência cada vez maior, também de pais que passam a depender de nós.
O que vem sendo exigido de pais e mães que trabalham é impossível: conciliar dedicação total como empregados e responsáveis pelos filhos.
Para Laura Carstensen, diretora do centro de longevidade, a sociedade vai ter que ser flexível e criativa para resolver o impasse: por exemplo, diminuindo a carga horária de casais enquanto os filhos são pequenos, com a possibilidade de essas “horas devidas” serem compensadas no futuro. Inviável do ponto de vista econômico, já que os empregadores teriam que continuar arcando com os custos dos trabalhadores com a jornada reduzida? Talvez seja mais inviável o cenário no qual nos encontramos, com gente sobrecarregada e longe de dar o melhor de si nas empresas.