A menos de 30 dias da Páscoa - que este ano acontece no dia 31 de março - os corredores dos supermercados e lojas de doces já estão cheios de ovos de chocolates e produtos para produções artesanais. Mas, ao que tudo indica, vai ser preciso uma verdadeira corrida atrás dos melhores preços, já que os chocolates estão mais caros devido ao valor de venda do cacau (matéria-prima dessas delícias), que está batendo recordes em 2024.
No Espírito Santo, um dos maiores produtores do país, a saca do fruto está sendo vendida por R$ 1.840, mais do que o dobro do preço praticado no mesmo período de 2023, que era R$ 860. Isso vai afetar o produto final, que é o chocolate. Se por um lado os consumidores vão ter que desembolsar muito mais pelos doces, por outro lado, os produtores celebram a alta no valor.
O especialista e produtor de cacau Fernando Buffon explicou que a diminuição da produtividade das lavouras de cacau no continente africano, em países como Costa do Marfim e Gana, está por trás da diminuição da oferta do produto no mercado mundial e consequente aumento do valor da fruta. Por tabela, o preço do chocolate também sobe.
"Houve queda da produtividade devido a problemas climáticos, reflexos do El Niño e envelhecimento das lavouras. E a África sendo o maior produtor de cacau do mundo, não tem como não impactar diretamente no preço do mercado", pontuou. Ao contrário da África, no Brasil o clima foi até mais favorável, garantindo uma boa produção.
Um estudo realizado pela Horus, empresa de inteligência de mercado, entre janeiro e fevereiro, indicou aumento de preço em três categorias de chocolates em todo o país. As barras de chocolate ficaram 11% mais caras; chocolates e bombons subiram 10,5%; enquanto que os ovos de Páscoa ficaram 1,8% mais caros.
O aumento verificado nos preços em 2024 é maior que o registrado no mesmo período de 2023, quando os ovos de Páscoa acumularam alta média de 0,4%, segundo a empresa.
Fernando ressalta que a alta do valor impacta a economia do Espírito Santo, principalmente, na cidade de Linhares, responsável por 80% da produção capixaba.
"Para mim, esse é o preço recorde do cacau, nunca tinha visto esse valor da commodity. […] Depois de décadas de valores medíocres, em que os agricultores mal conseguiam tratar das lavouras, agora está bom. É um incentivo para cada um cuidar da sua lavoura, fazer um trato melhor, gastar mais, adubar mais, investir na produção", analisou.
Já o presidente da Associação de Cacauicultores de Linhares, André Luiz Scampini, aponta também que a queda na produção de cacau já acontece há alguns meses, mas que a diferença maior está sendo sentida agora. "Com o fim dos estoques das grandes indústrias de chocolates mundiais, o preço realmente disparou".